AGENDA:
Observação:Envie as suas respostas para o e-mail do(a) seu(sua) professor(a):
7° ano A - Débora Pontes: debora.pontes@educacao.fortaleza.ce.gov.br
7° ano B e C - Leudilanio Alves: antonio.leudiano@educacao.fortaleza.ce.gov.br
Gêneros Memórias
Literárias – Oficina 9: Na memória de
todos nós
Leitura 1: O
Lavador de Pedra
Manoel de Barros
A gente morava no patrimônio de Pedra Lisa. Pedra Lisa
era um arruado de 13 casas e o rio por detrás. Pelo arruado passavam comitivas
de boiadeiros e muitos andarilhos. Meu avô botou uma Venda no arruado. Vendia
toucinho, freios, arroz, rapadura e tais. Os mantimentos que os boiadeiros
compravam de passagem. Atrás da Venda estava o rio. E uma pedra que aflorava no
meio do rio. Meu avô, de tardezinha, ia lavar a pedra onde as garças pousavam e
cacaravam. Na pedra não crescia nem musgo. Porque o cuspe das garças tem um
ácido que mata no nascedouro qualquer espécie de planta. Meu avô ganhou o
desnome de Lavador de Pedra. Porque toda tarde ele ia lavar aquela pedra.
A Venda ficou no tempo abandonada. Que nem uma cama
ficasse abandonada. É que os boiadeiros agora faziam atalhos por outras
estradas. A Venda por isso ficou no abandono de morrer. Pelo arruado só
passavam agora os andarilhos. E os andarilhos paravam sempre para uma prosa com
o meu avô. E para dividir a vianda que a mãe mandava para ele. Agora o avô morava
na porta da Venda, debaixo de um pé de jatobá. Dali ele via os meninos rodando
arcos de barril ao modo que bicicleta. Via os meninos em cavalo de pau correndo
ao modo que montados em ema. Via os meninos que jogavam bola de meia ao modo
que de couro. E corriam velozes pelo arruado ao modo que tivessem comido canela
de cachorro. Tudo isso mais os passarinhos e os andarilhos era paisagem do meu
avô. Chegou que ele disse uma vez: Os andarilhos, as crianças e os passarinhos
têm o dom de ser poesia. Dom de ser poesia é muito bom!
Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003.
Atividade 1
- Leia
alguns fatos sobre o autor de O Lavador de Pedra, Manoel de
Barros.
Manoel
de Barros, Cuiabá (MT), 1916 - Campo Grande, 2014.
Em Memórias inventadas: a infância, o autor nos presenteia com seis pequenos contos que
narram uma infância recriada pelo poeta. O texto foi escrito quando Manoel de
Barros tinha 87 anos. A respeito desse livro ele diz: “Agora tenho saudades do
que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância”.
Para conhecer um pouco mais do escritor, assista ao trailer do filme Só dez por cento é mentira e acesse o site da Fundação Manoel de Barros.
- Após
a leitura, responda: Como o autor recria suas memórias de infância.
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- Observe
alguns aspectos do texto para responder:
- O
que mais lhes chamou a atenção no texto de Manoel de Barros?
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- Que
fato de suas memórias o autor resgata nesse trecho?
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- Que
personagens aparecem nessa narrativa?
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- Como
vocês entenderam a frase: “Agora o avô morava na porta da Venda, debaixo
de um pé de jatobá”?
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- Há
palavras ou expressões do texto que desconhecem?
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- Perceba
que, nesse texto, Manoel de Barros conta um episódio cuja personagem
principal é o avô dele. Assim, embora esteja narrando memórias, o texto
retrata um momento em que o autor é observador, testemunha do que o avô
viveu. Nessa narrativa, aparecem diversas personagens: o narrador, o avô,
a mãe do narrador, os boiadeiros, os andarilhos e os meninos.
Leitura 2:
Memórias de livros III
João Ubaldo Ribeiro
[…] Nas férias escolares, ela ia me buscar para que eu
as passasse com ela, e meu pai ficava preocupado.
— D. Amália — dizia ele, tratando-a com cerimônia na
esperança de que ela se imbuísse da necessidade de atendê-lo —, o menino vai
com a senhora, mas sob uma condição. A senhora não vai deixar que ele fique o
dia inteiro deitado, cercado de bolachinhas e docinhos e lendo essas coisas que
a senhora lê.
— Senhor doutor — respondia minha avó —, sou avó deste
menino e tua mãe. Se te criei mal, Deus me perdoe, foi a inexperiência da
juventude. Mas este cá ainda pode ser salvo e não vou deixar que tuas
maluquices o infelicitem. Levo o menino sem condição nenhuma e, se insistes,
digo-te muito bem o que podes fazer com tuas condições e vê lá se não me
respondes, que hoje acordei com a ciática e não vejo a hora de deitar a
sombrinha ao lombo de um que se atreva a chatear-me. Passar bem, Senhor doutor.
E assim eu ia para a casa de minha avó Amália, onde
ela comentava mais uma vez com meu avô como o filho estudara demais e ficara
abestalhado para a vida, e meu avô, que queria que ela saísse para poder beber
em paz a cerveja que o médico proibira, tirava um bolo de dinheiro do bolso e
nos mandava comprar umas coisitas de ler — Amália tinha razão, se o menino
queria ler, que lesse, não havia mal nas leituras, havia em certos leitores. E
então saíamos gloriosamente, minha avó e eu, para a maior banca de revistas da
cidade, que ficava num parque perto da casa dela e cujo dono já estava
acostumado àquela dupla excêntrica.
Um brasileiro em Berlim. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
Atividade 2
- Nesta etapa, vamos trabalhar com mais um
trecho do texto de João Ubaldo Ribeiro. Memória de livros é um
texto que recupera suas lembranças dos primeiros contatos com os livros,
as leituras que fazia quando pequeno, o papel fundamental de seu pai e de
seus avós na sua formação como leitor.
João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu na Ilha de Itaparica, Bahia.
Passou a infância em Aracaju, morou em outros países e no Rio de Janeiro até a
sua morte, em 2014. Autor de romances, crônicas e contos, João Ubaldo foi
também jornalista e professor. Recebeu vários prêmios internacionais por suas
obras. Memória de livros é um dos textos do livro Um
brasileiro em Berlim, publicado quando o autor tinha 54 anos.
- Responda:
- Nesse trecho, o autor relembra um deslocamento
que costumava acontecer nas férias escolares. Ele ia de onde para onde?
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- A realidade vivida pelo autor na sua infância
era a mesma nos dois lugares? Explique.
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- Que semelhanças você identifica entre o texto
de Manoel de Barros e o de João Ubaldo Ribeiro?
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Como dizer
Atividade 3
- Em
textos de memórias literárias, ao descrever um objeto, uma personagem, um
sentimento, os autores utilizam a linguagem para criar imagens, provocar
sensações, ressaltar determinados detalhes ou características. A
articulação desses recursos proporciona ao leitor ou à leitora uma
experiência estética particular. Veja as seguintes frases:
- Havia
uma pedra no meio do rio.
- Este
menino ainda pode ser salvo.
- Essas
informações podem aparecer de um jeito diferente, mais literário, mais
poético. Leiam novamente os textos e procurem identificar nos trechos os
fatos descritos nas frases apresentadas. São eles:
- “E
uma pedra que aflorava no meio do rio”
- “Mas
este cá ainda pode ser salvo”.
- Existem
alguns recursos, algumas formas de dizer que tornam singulares os fatos
escolhidos pelos autores. Observe os quadros “Manoel de Barros – O Lavador
de Pedra” e “João Ubaldo Ribeiro – Memória de livros”, e vejam nos textos
lidos as frases correspondentes, ou seja, a forma como o autor narrou
esses fatos.
- Para
criar seus textos, veja que recursos linguísticos foram utilizados pelos
autores: figuras de linguagem, empregaram expressões características de
determinada região, também fizeram uso de expressões típicas da oralidade
informal. Nesse caso, o uso dessas expressões foi intencional e adequado
para o contexto.
Para
saber mais
Uso
de alguns recursos linguísticos em O Lavador de Pedra
A) “Meu avô ganhou o desnome de Lavador de Pedra.”
Trata-se de um neologismo ou criação de palavra nova.
O autor utilizou-se do prefixo des, que tem o sentido de negação, para criar um
outro nome, ou seja, desnome seria o não nome, o outro nome, diverso do de
batismo.
B) “Dali ele via os meninos rodando arcos de barril ao
modo que bicicleta. Via os meninos em cavalo-de-pau correndo ao modo que
montados em ema. Via os meninos que jogavam bola de meia ao modo que de couro.
E corriam velozes pelo arruado ao modo que tivessem comido canela de cachorro.”
Aqui é tratada a comparação, que estabelece uma
relação de semelhança entre elementos, por meio de termos comparativos, entre
os quais: como, qual, feito, que nem, parece. Os escritores costumam utilizar
comparações, estabelecendo relações de sentido ora previsíveis, ora
inesperadas, entre as palavras.
Você também pode assistir ao vídeo do Canal
Futura com a turma sobre as figuras de linguagem.
Para
saber mais 2
Uso
de alguns recursos linguísticos em “Memória de livros”
A) “[…] e não vou deixar que tuas maluquices o
infelicitem.”
Nessa fala da avó, em que ela usa a segunda pessoa do
singular para se dirigir ao filho, substitui-se o filho (tu) por uma
caracterização que o representa (“tuas maluquices”). A figura é a metonímia, o uso
de um pormenor de uma pessoa no lugar da própria pessoa.
B) “[…] tirava um bolo de dinheiro do bolso e nos
mandava comprar umas coisitas de ler.”
Essa passagem sugere que havia tanto dinheiro no bolso
do avô que aquele monte de notas formava um bolo. Essa afirmação exagerada é
chamada de hipérbole.
C) “Passar bem, senhor doutor.”
A fala da avó, ao despedir-se do filho depois de ter
uma discussão com ele, sugere que ela lhe deseja o contrário do que está
dizendo: em vez de passar bem, passar mal. O modo como chama o filho, de senhor
doutor, é muito formal e também indica que ela está ironizando o fato de ele se
achar muito sabido. Esse recurso, pelo qual se diz o contrário do que pensamos,
é chamado de ironia.
Observação:Envie as suas respostas para o e-mail do(a) seu(sua)
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7° ano A - Débora Pontes: debora.pontes@educacao.fortaleza.ce.gov.br
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